A construtora OAS pagou até mesmo eletrodomésticos da cozinha
de um tríplex do Guarujá (SP) que pertenceria ao ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Segundo investigadores, a empresa adquiriu
geladeira, no valor de 10.000 reais, forno de micro-ondas, 5.000 reais;
tampo de pia de resina americana, 50.000 reais; e forno elétrico, 9.000
reais, do imóvel que está sob investigação da Operação Lava Jato e do
Ministério Público de São Paulo por suspeita de ter sido usado para
pagamento de propina. A cozinha e o quarto teriam custado à empreiteira
380.000 reais.
Oficialmente, o imóvel está em nome da OAS, mas há indícios de que
pertence ao ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia. O promotor
Cássio Conserino, do MP-SP, intimou o casal para prestar depoimento
sobre o tríplex no próximo dia 17 a partir de depoimentos que revelaram a
presença de Marisa Letícia supervisionando a obra. Todo o apartamento
foi reformado pela construtora em obra que teria custado 777.000 reais. A
empreiteira é alvo da Operação Lava Jato sob a acusação de ter pagado
propina em troca de obras na Petrobrás.
Os eletrodomésticos da cozinha do tríplex, segundo investigadores,
foram adquiridos pela OAS na loja Kitchens na Avenida Faria Lima, em São
Paulo. Um sítio em Atibaia, no interior paulista, que também
pertenceria ao ex-presidente, recebeu cozinha planejada da mesma loja
que custou 180.000 reais. A contratação da Kitchens pela OAS para
mobiliar o apartamento 164-A do condomínio Solaris, no Guarujá, foi
revelada pelo site O Antagonista. O site também informa que a cozinha do sítio foi bancada pela mesma empreiteira e, nesse caso, paga em espécie.
A reforma no tríplex foi realizada entre abril e setembro de 2014,
quando Lula já havia deixado a Presidência da República. Se comprovado
que o petista omitiu o imóvel de sua declaração de bens, o próximo
passo, segundo os investigadores, é saber a razão. Uma das hipóteses é a
necessidade de encobrir suposto pagamento por tráfico de influência,
uma vez que Lula teria renda para comprar o imóvel. O ex-presidente tem
reiterado que, após deixar o governo, sua única atividade remunerada é a
de palestrante. Ele também nega fazer lobby para empresas.
No total, as cozinhas do tríplex e do sítio custaram 312.000 reais.
Incluindo os armários do imóvel, a conta chega em 560.000 reais. Segundo
uma fonte com acesso aos dados relacionados à compra e que pediu para
não ser identificada, a Kitchens vendeu, ainda para o apartamento,
armários do dormitório, lavanderia e banheiro. Com a entrada da OAS em
recuperação judicial, a empresa Kitchens ficou no prejuízo e não recebeu
a última parcela de 33.000 reais referente à cozinha do tríplex. A loja
vai tentar receber o valor na Justiça.
Outros itens – Documentos obtidos pelo Estado
revelam que a OAS também financiou outros itens do apartamento comprados
no mercado de luxo. Uma escada caracol custou 23.817,85 reais. Outra,
que dá acesso à cobertura, 19.352 reais. O porcelanato para as salas de
estar, jantar, TV e dormitórios foi estimado em 28.204,65 reais. O
rodapé em porcelanato, 14.764,71 reais. O deck para piscina, 9.290,08
reais. O elevador instalado oferece a possibilidade de ser
personalizado, com acabamento conforme a escolha do cliente, e custou
62.500 reais.
O jornal O Estado de S.Paulo tentou contato com a OAS ontem
por telefone e e-mail, mas não obteve resposta. O ex-presidente Lula tem
sustentado que ele não é dono do tríplex nem do sítio em Atibaia. “Lula
nunca escondeu que sua família comprou, a prestações, uma cota da
Bancoop, para ter um apartamento onde hoje é o edifício Solaris. Isso
foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro,
não recebeu dinheiro pelo imóvel. Para ter o apartamento, de fato e de
direito, seria necessário pagar a diferença entre o valor da cota e o
valor do imóvel, com as modificações e acréscimos ao projeto original. A
família do ex-presidente não exerceu esse direito. Portanto, Lula não
ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E
continuará lutando em defesa do Brasil, do Estado de Direito e da
democracia”.
(Com Estadão Conteúdo)