RECLASSIFICAÇÃO: Tumor é reclassificado como benigno e deve reduzir retirada da tireoide
BLOG O CIDADAO
Um tumor de tireoide que hoje
responde por 20% dos casos de câncer nessa glândula foi reclassificado e
agora passa a ser considerado uma lesão benigna. Ou seja, deixou de ser
câncer.
Com isso, 46 mil pessoas que são
diagnosticadas por ano com esse tipo de tumor no mundo passarão a ser
poupadas da remoção completa da tireoide e da iodoterapia (um tipo de
radioterapia), que é atualmente o tratamento padrão nesses casos.
A reclassificação foi feita por um
painel internacional de especialistas, composto por 24 patologistas de
sete países (dentre eles o Brasil), dois endocrinologistas, um cirurgião
da tireoide, um psiquiatra e uma paciente.
O estudo que embasou a mudança foi publicado nesta quinta (14) na revista científica “Jama Oncology”.
Chamado de “variante encapsulada
folicular do carcinoma papilar da tireoide (EFVPTC, na sigla em
inglês)”, o tumor reclassificado é um pequeno nódulo na tireoide que
está cercado por uma cápsula de tecido fibroso. O núcleo se parece com
um câncer, mas as células não ultrapassam o invólucro.
Portanto, a cirurgia para a retirada
total da glândula seguida de iodoterapia é “desnecessária e nociva”,
dizem os autores do artigo.
Segundo Venâncio Avancini Ferreira
Alves, diretor do centro de patologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e
um dos autores do trabalho, a partir de agora, a indicação será apenas a
retirada do nódulo, com preservação da glândula, e o acompanhamento do
paciente.
“Vamos poupar complicações da cirurgia,
como a rotura do nervo vago, que pode causar rouquidão, ou a retirada
das paratireoides, que geram alterações de vitamina B e do metabolismo
do cálcio. A iodoterapia também está associada a lesões na regiões
vizinhas da irradiada.”
Para Clóvis Klock, presidente da SBP
(Sociedade Brasileira de Patologia), a mudança também terá economia para
os sistemas de saúde. “Estima-se o custo para tratar cada paciente com
esse tipo de tumor varie entre US$ 5.000 e US$ 8.500 por paciente.
Quando a gente multiplica isso por 46 mil por ano, o impacto é grande.”
Venâncio Alves explica que a
reclassificação só foi possível graças a estudos citológicos e
moleculares que permitiram diferenciar o tumor de outros realmente
malignos e com potencial de metástases.
“Os critérios e as evidências em
medicina são dinâmicos. Até ontem de manhã [quinta, data da publicação
do artigo], os médicos não tinham acesso a essa informação. Então, quem
foi operado sem necessidade, não foi por erro médico”, diz Alves.
Segundo Klock, as novas recomendações
serão repassadas aos patologistas para que, a partir de agora, passem a
usar os novos critérios em seus diagnósticos.
ESTUDO
O estudo que motivou a reclassificação
do tumor analisou 109 pacientes com uma forma não invasiva da doença e
101 pacientes que desenvolveram a forma invasiva. Os grupos foram
acompanhados por períodos que variaram de dez a 26 anos.
Também foi feita uma revisão dos materiais (como amostras dos tumores) coletados pelos patologistas.
Todos os casos, pelos critérios até
então adotados, foram classificados como câncer. Os pacientes com
tumores encapsulados, porém, não foram tratados após a remoção. Nenhum
deles teve qualquer evidência de câncer após dez anos.
“Os pacientes cujos tumores estão
confinados dentro de suas cápsulas tem um excelente prognóstico. Eles
não precisam de uma tireoidectomia. Eles não precisam de radioterapia.
Eles não precisam de ser acompanhadas a cada seis meses”, diz Yuri
Nikiforov, do departamento de patologia Universidade de Pittsburgh
(EUA).
“Se não é um câncer, não vamos chamá-lo
de câncer”, disse John Morris, presidente eleito da Associação Americana
de Tireoide e professor de medicina da Clínica Mayo.
Para Clóvis Klock, o estudo servirá para
embasar debates sobre outros tumores, como de mama e de próstata, que
não são invasivos e os pacientes poderiam ser poupados de terapias
agressivas.
Folha Press
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